A propósito do impacto (negativo) da barragens no vale do Tâmega e da luta de (poucos) cidadãos informados mas indignados, aqui vai.
Nos anos longínquos de 1969 vivi eu, sem muita consciência da importância do que vivia, momentos indescritíveis sobrevoando, em pequenas avionetas, as montanhas de Cabora Bassa, hoje Cahora Bassa, tal como se pronuncia na língua local desta região, o nhúngue, a língua que também eu utilizava.
Nos anos longínquos de 1969 vivi eu, sem muita consciência da importância do que vivia, momentos indescritíveis sobrevoando, em pequenas avionetas, as montanhas de Cabora Bassa, hoje Cahora Bassa, tal como se pronuncia na língua local desta região, o nhúngue, a língua que também eu utilizava.
Localizadas na província de Tete, a cerca de uma dezena de quilómetros da localidade Songo, estas montanhas dão abrigo à Hidroeléctrica de Cahora Bassa. O meu pai, administrador da zona geográfica onde estava inserida, acompanhava os técnicos que iniciavam a sua construção e eu, a reboque, ia atrás. Lembro-me essencialmente da grandeza daquele rio, da imensidão da garganta que máquinas e homens iam modificando, da força das águas que corriam e ainda da dimensão selvagem das montanhas que circundavam todo aquele cenário.
O que eu também sabia era que todo o vale onde nós morávamos, mais cedo ou mais tarde, com a finalização do projecto iria desaparecer, ficar totalmente submerso pela albufeira que se iria formar: a quarta maior de África, com uma extensão de 250 km de comprimento e 38km de afastamento entre as margens. E sentia uma infinita tristeza por saber que todo o meu mundo iria desaparecer. E assim foi.
Portugal apenas pretendia ganhar o apoio da África do Sul na sua luta colonial e uma das suas prioridades era fornecer energia a baixos custos à África do Sul, devido a mais um acordo, de vistas curtas, efectuado entre estes dois países em 1969.
Ainda hoje me assalta a nostalgia ao pensar em tudo o que se perdeu... ainda hoje me questiono sobre os ganhos que se adquiriram e sobre o impacto que eles tiveram, ou não, na vida de milhares de pessoas que foram deslocadas e viram a sua vida completamente transformada.
Ainda hoje me assalta a nostalgia ao pensar em tudo o que se perdeu... ainda hoje me questiono sobre os ganhos que se adquiriram e sobre o impacto que eles tiveram, ou não, na vida de milhares de pessoas que foram deslocadas e viram a sua vida completamente transformada.
Para além de tudo e depois de assinado o acordo de reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa para Moçambique, pelo primeiro-ministro português, José Sócrates, em 2007, tendo Portugal ficado apenas com uma pequena parcela de participação (de 82% passou a 15%) lanço a questão: E agora meus senhores, o que ganhamos nós, desta vez, com o nosso Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico?
2 comentários:
Pois é Tiza... o que ganhamos nós?
Nem juízo...
Mas também com este primeiro é sempre a perder. Juízo incluído!
Beijos
Ah! Bonita fotografia...
Linda menina...
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