E como os "Anónimos" nem sempre se escondem sob este nicname para dizerem coisas más, hoje em jeito de agradecimento, tenho mesmo de publicar o seu comentário em forma de poema.
Nada mais adequado! Intitulado José, e escrito pelo meu poeta favorito, foi postado com a esperança de que "lá para Outubro o possamos declamar para o José, o tal..."
Obrigada pela contribuição Anónimo... contribua sempre.
PS: De quem serão os fatos que ela arruma?
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
1 comentário:
O tal anónimo adora participar no teu blog. A graça é mesmo ser assim " anónimo". É o que, ultimamente, costumo ser, o que gosto de ser, o que preciso ser.
Quando ao nosso José já encomendei um par de patins bem oleadinhos e faço questão de lhe dar um empurrãozinho nos fundilhos (sem ofensa). Vamos construir a rampa?!
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