Hoje, a caminho da escola, ouvindo as notícias, tomei atenção àquela que dizia “mais de metade das reformas pedidas por invalidez não tinham sido concedidas”.
De imediato me lembrei da Fatinha.
Será que a ela lha vão conceder?
A Fatinha fazia parte do nosso corpo docente. Era também uma pessoa muito frágil, em consequência de um grave acidente que tinha acontecido algures, no seu percurso de vida.
A Fatinha não tinha grandes condições para continuar a ser professora, nos dias que correm.
E depois de vários episódios desgastantes pelos quais todos nós, hoje em dia passamos, decidiu que era tempo de ir ao médico para ter direito a uma merecida “baixa”.
Esteve de atestado médico até agora, com todas as consequências que esta situação acarretava para a sua vida profissional... Foi há uns dias chamada a uma Junta Médica...
Dez minutos depois de entrar na escola recebi um telefonema.
Ao princípio nem percebi muito bem o que me diziam. Ontem à noite, sem que nada o anunciasse, sentiu-se mal e morreu.
Nunca a ouvimos queixar da sua condição incapacitante.
Nunca a vimos zangada com ninguém.
Nunca a vimos ser menos delicada ou até a saber defender-se das acusações infundadas e das queixas mordazes de encarregados de educação injustos, que amiúde lhe faziam.
Partiu tal como viveu, sem fazer “ondas”, esperemos que serenamente.
Assim nos lembraremos de ti: serena, pacífica, amiga.
A tua recordação continuará entre todos nós, tranquilamente.
Descansa em paz, Fatinha.
De imediato me lembrei da Fatinha.
Será que a ela lha vão conceder?
A Fatinha fazia parte do nosso corpo docente. Era também uma pessoa muito frágil, em consequência de um grave acidente que tinha acontecido algures, no seu percurso de vida.
A Fatinha não tinha grandes condições para continuar a ser professora, nos dias que correm.
E depois de vários episódios desgastantes pelos quais todos nós, hoje em dia passamos, decidiu que era tempo de ir ao médico para ter direito a uma merecida “baixa”.
Esteve de atestado médico até agora, com todas as consequências que esta situação acarretava para a sua vida profissional... Foi há uns dias chamada a uma Junta Médica...
Dez minutos depois de entrar na escola recebi um telefonema.
Ao princípio nem percebi muito bem o que me diziam. Ontem à noite, sem que nada o anunciasse, sentiu-se mal e morreu.
Nunca a ouvimos queixar da sua condição incapacitante.
Nunca a vimos zangada com ninguém.
Nunca a vimos ser menos delicada ou até a saber defender-se das acusações infundadas e das queixas mordazes de encarregados de educação injustos, que amiúde lhe faziam.
Partiu tal como viveu, sem fazer “ondas”, esperemos que serenamente.
Assim nos lembraremos de ti: serena, pacífica, amiga.
A tua recordação continuará entre todos nós, tranquilamente.
Descansa em paz, Fatinha.
3 comentários:
Amiga:
Ei-los que partem
Velhos e novos ...
(Infelizmente não foi em busca de outras paragens).
A partida de alguém com quem partilhámos, durante anos, a nossa vida, dói, por vezes muito.
Ver que essa pessoa deu o seu melhor para o bem de todos e que quando precisou nada lhe deram, revolta.
É esse o meu estado "normal" hoje em dia.
É injusto que, em vez de agradecimento público, ainda se tenha sujeitado a correr "seca e meca" para nada...
Terminou a sua luta, deixou-nos a tristeza e a necessidade de continuar a nossa.
Caricato é ter 31 anos de serviço e se ficasse doente, como a Fatinha, porque me faltam 14 para a "dita" receberia menos que o Ordenado Mínimo Nacional. REVOLTA?!!
Lamento a vossa perda.
Quando as palavras não bastam que fale o poeta...
Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta cama comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal
Não tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser
Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal
* * *
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.
Alexandre O'Neill
Por todos aqueles que já partiram e de quem não se esquece a dedicação.
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